O deputado Carlos Gaban é o entrevistado da semana do Bocão News. Fiel ao estilo polêmico que caracteriza seu trabalho na Assembleia Legislativa, o parlamentar agradeceu durante a conversa exclusiva ao governador Jaques Wagner por ter indicado á disputa da sucessão deste ano o secretário estadual da Casa Civil, Rui Costa. Segundo ele, trata-se de uma oportunidade que o petista deu à oposição de vencer as eleições deste ano.
Além disto, Gaban discute a estratégia da oposição para o pleito, a qual explica que se trata de mostrar à população a maneira como o grupo administra e compará-lo com a falta de resultados da gestão petista. Por falar nos adversários, o deputado elege o aspecto da gestão de Wagner como seu pior defeito e, por outro lado, nega mágoa por não ter sido reeleito imediatamente quatro anos atrás.
Leia abaixo a entrevista na íntegra.
Por Lucas Esteves // Fotos: Roberto Viana
Bocão News – O ano começa difícil para os servidores do Estado, não é? Há, mais uma vez, um atraso por parte do governo do estado, o que já ficou aparentemente normal na gestão Wagner.
Carlos Gaban – Foi divulgado na semana passada o maior aumento da Cesta Básica do Brasil em Salvador: 16%. A inflação beirando a casa dos 6%. A data básica do servidor estadual, segundo a lei, seria 1º de janeiro. E não chegou ainda a mensagem do governador para o reajuste do servidor público. Nós temos que lembrar que no ano passado o governo só deu o reajuste ao servidor em junho e, mesmo assim, parcelado. Alegando á época que o governo estava com uma situação financeira totalmente desequilibrada, o que era uma verdade. Este ano, nós pegamos um artigo publicado pelo próprio secretário da Fazenda e ele diz que a Bahia está com as finanças no céu. Só que ele está esquecendo que o servidor público está no inferno. É um ano escolar, onde a gente vê o custo de material subindo assustadoramente, num mês em que tem IPTU e IPVA para pagar, e o servidor não teve seu salário reajustado. Este é o assunto que nós a partir de hoje vamos tratar na Assembleia Legislativa durante o período em que estiver tramitando o Orçamento.
BNews – O sindicato os servidores não deveria, teoricamente, ser mais combativo em relação a isto? Será que há alguma relação do sindicato com o governo a ponto de que o grupo decida não tocar no assunto mesmo que este seja importante para a categoria?
CG – Eu já cobrei isso várias vezes no plenário da assembleia. Na Bahia, o que dá a entender, é que existe uma confusão entre os presidentes de sindicato. Estão confundindo representação sindical com alinhamento político. Eles foram eleitos para defender o interesse de determinadas categoria. Nunca confundir isso com alinhamento. É extremamente estranho até hoje não ter tido uma enorme manifestação, por exemplo, contra a URV. Ela já tem jurisprudência tomada pelo STF desde setembro. Então URV é um assunto sacramentado. Quando eu fui presidente do Poder Legislativo, nós autorizamos o pagamento da URV. O Tribunal de Contas já pagou, o Ministério Público já pagou. Por que é que o Executivo não paga?
BNews – Será que um dia vai pagar?
CB – Tem que pagar. Isto é lei. A lei tem que ser cumprida. Eu acho que quando tínhamos, usando até as palavras da ministra Eliana Calmon, que disse que tem um “alinhamento” entre governo do estado, tribunal de contas e o Ministério Público. O governo cooptou estes poderes. Isto é terrível. Também falou do Tribunal de Justiça. Eu acho que ela se referiu a administrações passadas. Nós temos hoje, no exercício do mandato, o desembargador Eserval [Rocha], e o compromisso que ele tem é tirar a Bahia deste noticiário em relação ao Poder Judiciário.
BNews – Deputado, nós podemos ver hoje que o governo vai mal, mas a oposição vai bem. Foi um ano de retomada dos trabalhos do bloco na Assembleia, das vitórias de ACM Neto e Zé Ronaldo em Feira de Santana, e a gente de novo ver a oposição na Bahia com fôlego pra criticar e planejar o trabalho no estado. Como o senhor avalia 2013 e, com base nesta avaliação, o que 2014 promete para o grupo?
CG – O ano de 2013 foi fundamental até para a sobrevivência do DEM. O DEM precisava administrar uma grande cidade aqui no interior do Estado. Então fomos para duas campanhas e ganhamos em Salvador e Feira de Santana. O que o nosso grupo está fazendo? Nosso proposito é relembrar a população da Bahia a maneira do DEM de administrar. Então o modelo que está sendo iniciado por ACM Neto e Zé Ronaldo é o que nós vamos mostrar na nossa campanha mesmo tendo muito pouco tempo. Mesmo no caso específico de Salvador, com uma prefeitura arrasada, devendo pra todo mundo. O primeiro passo é parabenizar ACM Neto e o governador: eles tiveram maturidade política para entender que a população não entende mais essas justificativas de que dois políticos ficarem brigando depois de eleitos. Então fizeram o entendimento, e por meio disso, o menor e mais caro metrô do mundo fosse reativado e tivesse um horizonte de finalização. Mas a partir dai começou um trabalho e já temos um planejamento de melhoria da malha rodoviária para que a gente tenha condições de ter um tráfego melhor e não passe tanto tempo no volante como passa. Há muitas obras, inclusive com dinheiro próprio da prefeitura, em todas as áreas. Não está, como em outros anos, fazendo tapa-buraco. Está revitalizando a malha asfáltica. Está revitalizando o sistema de iluminação pública da cidade. Estamos mostrando que, quando quer, se faz. Neto pegou 167 inadimplências com vários órgãos que impossibilitavam a prefeitura de fazer empréstimos e convênios e agora isto é assunto resolvido. Encerrou o ano com R$ 400 mi em caixa. Voce mostra que com uma boa equipe trabalhando sob uma liderança que quer realizar, realiza. No caso de Zé Ronaldo, já tinha uma experiência administrativa comprovada. Então, voltando ao início, estamos relembrando a maneira do DEM trabalhar para que isso seja um modelo que, quando estejamos em campanha eleitoral após o carnaval, compare a nossa maneira de administrar com o PT e a população vai decidir o que é melhor para a Bahia e para os baianos.
BNews – Falando em relembrar, como se faz para lidar com determinadas heranças políticas? Por exemplo, se o PT um dia foi considerado o novo e agora é considerado um partido de corruptos, o grupo de DEM, PSDB e o antigo PFL é considerado retrógrado, reacionário, autoritário. Como desfazer esta ideia e dizer ao povo que isso não é verdade, que agora estão trazendo uma coisa nova, ou ao menos uma antiga em uma roupagem nova?
CG – Nada como a democracia. Por que? Porque possibilita a alternância do poder. Quem está criticando tem a possibilidade de administrar e vice-0versa. O PT, como nunca foi governo, sempre criticou tudo. Arrogante, com muita prepotência. Mas aí vamos por partes. Alguns anos atrás, quando ACM ainda era vivo. A porta de entrada para os recursos do Nordeste era a Bahia. O que sobrava daqui ia para Marco Maciel em Pernambuco. O que sobrava dele ia para Sarney no maranhão. Hoje inverteu. Onde você não tem uma liderança que é respeitada e briga pelo estado, acontece isso. Hoje a porta de entrada é Pernambuco. Lá temos porto de Suape em, através dele, temos 196 empresas com indústria têxtil, de refino de petróleo. O que sobra de lá está indo para o Maranhão, Sergipe. Eu não tenho nada contra nossa querida Aracaju, Sergipe. Mas é um estado muito pequeno comparado à Bahia. E ela está tendo muito mais dinheiro do Governo Federal do que nós. E outra coisa: todo e qualquer, mesmo o governador de Brasília, que apresentasse qualquer desvio de conduta, era expulso do partido. O DEM não alisou. Tinha desvio de conduta, era expulso do partido. Esse é o comportamento do DEM. Qual o do PT? Ajudar os companheiros. Estão fazendo até uma vaquinha a ajudar para pagar a dívida de Genoíno. São comportamentos diferentes. Todo evento do PT, e eles jogam isso na imprensa, eles estão querendo defender o indefensável. Então é bom a democracia por isso. Eles que estão no poder agora estão defendendo os que a Justiça já condenou. O DEM, não. Quando foram apenas citados pela Justiça foram afastados, expulsos do nosso partido. Esta é uma das formas de administrar do PT e do DEM.
BNews – Qual foi o maior erro do PT nestes quase oito anos de administração?
CG – Gestão. Para se ter uma ideia, quando o governo Wagner assumiu – e com uma expectativa muito grande da população- , ele pegou o contracheque e [Marco] Prisco [presidente da Aspra] alegando que este era um dos menores salários que tinha e que ia resolver o problema do policial militar. Ele também fez uma série de promessas para os professores. Funcionário público, acredito que 95%, votou com Wagner…
BNews – E servidor público ganha eleição.
CG – Ganha. É uma massa. Todos têm parentes. Imagine um professor público falando malo de um governo na sala de aula? Criou-se uma expectativa muito grande em cima do governo Wagner? Sim. Sempre foram sindicalistas. Acreditava-se que corrupção jamais iria ter. Compromisso assumido obrigatoriamente tinha que ser cumprido. Era o que eles defendiam. Veja quantos concursos públicos foram prestados no estado. Nós tivemos recorde de Reda, e, infelizmente, um recorde nacional foi de dias parados nas escolas. Não suficiente com isso, tivemos uma nova paralisação porque as pessoas terceirizadas também que faziam a limpeza o governo não estava pagando. Muitas escolas em Salvador e no interior deixaram de funcionar. Na Polícia Militar, não pagou a URV. O crime organizado está muito mais preparado que a própria secretaria, porque tem armamento muito mais moderno. A maioria dos PMs têm armamento próprio, porque a polícia não dá armamento para eles. Não tem colete à prova de balas. Você vai no Pelourinho, durante o dia as pessoas traficam ali livremente o crack. Termina o ano com a Bahia sendo recordista nacional de homicídios por 100 mil habitantes. A Bahia já está esse ano pessimamente mal. Vários caixas arrombados no interior. Virou quase rotina ser assaltado no interior. Então a gente perdeu o controle na segurança, na Saúde. O próprio MP entrou com uma ação pública há aproximadamente 3 semanas bloqueando recursos da Saúde porque deve R$ 220 milhões em pagamentos a fornecedores de medicamentos. É uma série de equívocos e ainda tem o maior deles, se é que pode se dizer. O governo tinha cerca de 20 secretarias e pegou aqueles adesistas, que foram eleitos democraticamente para ficar na oposição, cooptou. Faz parte do jogo político. Mas agora o grande erro dele: em vez de negociar secretarias, ele deveria dizer ter dito: “olha, deputados. Venham para o meu lado que eu vou ajuda-los com obras nos municípios que vocês representam. Vou investir para que, ao investir nos municípios, vocês se credenciem para as próximas eleições como aqueles deputados que trouxeram benefícios”. Mas não. Agora mesmo, quando deveria aproveitar que está mudando os secretários dele e dar uma enxugada, segurar o custeio da máquina, não. Comete o mesmo erro: negocia secretarias. Ele privilegiou a classe política e esqueceu da população. E então ele perdeu poder de investimento. Terminou o ano com 8% do poder de investimento. É quase nada. Este ano, todas as secretarias têm investimento menor previsto do que o ano passado. O governo está quebrado, esqueceu da população e é por isso que a gente vai mostrar a maneira do DEM de administrar e a do PT de administrar.
BNews – E ainda tem o Fiplan.
CG – O Fiplan, sistema de contabilidade do governo, só começou a funcionar em outubro> olha a gravidade: só no dia 10 de outubro deste ano os técnicos do Tribunal de Contas dos Estado, que são os responsáveis por auditar as contas do governo, começaram a ser treinados para manusear o Fiplan. Então o governo ficou 10 meses sem o próprio TCE poder fazer o trabalho do dia a dia deles, que é auditar.
BNews – O Fiplan foi azar ou incompetência?
CG – Acho que foi um erro estratégico. Era necessário o Fiplan? Sim. Um sistema bom, moderno. Mas não poderia de implantá-lo desativando o outro sistema. Não poderia colocar os dois para funcionar ao mesmo tempo? Lógico que não. Mas o que faria? Treinava bem o pessoal para saber manusear o sistema. Quando assim estivesse, com o pessoal sabendo usar bem o sistema, você jogava de lado o outro sistema e começaria o Fiplan. O que eles fizeram? Desativaram o sistema antigo, não treinaram os técnicos para poder trabalhar pro Fiplan. No primeiro quadrimestre deste ano, o então secretário da Fazenda Carlos Petitinga foi [á Assembleia] apresentar o resultado [das contas do Estado]. Eu disse: “secretário, os dados eu o senhor está apresentando estão totalmente inconsistentes”. Ele é um técnico e disse “olha, deputado Gaban, você tem razão. Estão errados, mas proximamente vamos resolver o Fiplan e tudo vai dar certo”. Eu até propus à época um acordo de liderança, pois o secretário apresentava um relatório inconsistente e, como tinha regimentalmente fazer isso, quando voltasse do recesso apresentava um relatório consistente. Ele está sendo sincero, técnico. Mas ninguém do governo aceitou e aí aprovaram um relatório inconsistente. Disseram que depois ele voltava e apresentava um outro relatório. O mais grave disso é que o governador aprovou, publicou no Diário Oficial o relatório do quadrimestre que o próprio secretário admitiu que era inconsistente. Chega Manoel Vitório, no segundo quadrimestre do ano passado, e apresenta o relatório. Fiz o mesmo questionamento e ele me respondeu: “Gaban, efetivamente está inconsistente, mas nós já estamos resolvendo o problema do Fiplan”. O governo vai e aprova, publica no Diário Oficial e mais uma vez o secretário reconhece que estava inconsistente. Então essas coisas não podem acontecer, porque aí tem a conivência do Tribunal de Contas. Este ano, teve um desconforto muito grande entre dois conselheiros, porque as contas demonstradas uma disponibilidade financeira de R$ 7 bilhões na contabilidade. Isso não existe. O governador devendo R$ 2 bi e dizendo que tinha R$ 7 bi de crédito? O relator disse que o governo vai regularizar. Não cabe o conselho dizer que o governo vai regularizar ou não. Ele tem que analisar a peça e dizer se está certa ou errada. Este descompasso entre TCM e TCE também colaborou de 2008 para cá que o governo chegasse na situação extremamente preocupante em que está.
BNews – E tem alguma coisa positiva que o governo Wagner tenha feito nesse período?
CG – Sempre tem coisas boas. Eu acho que ele ter tirado Carlos Martins foi uma das grandes coisas que ele fez. Senão não teria a mínima possibilidade de arrumar suas contas. Eu fico muito satisfeito de ele ter indicado o candidato que ele indicou. Para a oposição foi um grande serviço que ele prestou, porque dá a oportunidade da oposição e o DEM voltarem a administrar o estado. Mas ele fez coisas boas sim. Ele tem um diálogo muito bom. A grande falha dele foi na gestão. Não adianta ter um bom relacionamento – e ele tem – com o Governo federal, seja através de Lula, com a própria atual presidente. Não adianta ser amigo do Rei. Hoje em dia você tem um tribunal de Contas da União, que é ativo, com técnicos extremamente competentes e que fazem com que se cumpra a lei em vigor. Então você não pode apenas pela amizade ter projetos liberados. Só pode ter projetos liberados se tiver equipe. O governo não tem equipe, não tem projeto e é por isso que os recursos vão para o outro lado. Se ele cuidasse um pouco mais da gestão, pelo relacionamento que ele tem, a Bahia seria um canteiro de obras. Pelo menos foi essa a expectativa que a Bahia teve elegendo ele em primeiro turno e com o apoio do ex-presidente garantindo que centenas de obras seriam realizadas. Aí veio o segundo mandato, ele estava mais amadurecido, com a equipe mais preparada, mas isso também não aconteceu. Aí o bom relacionamento que ele tem, a forma que ele tem de tratar as pessoas, infelizmente não se transformou em nada para o estado.
BNews – Na Bahia e no Brasil, o grupo do governo critica a crítica da oposição acusando o grupo de, na verdade, não ter projeto. O que conversamos até agora diz respeito a um grande momento de “arrumação da casa” por conta das administrações do DEM mas, a partir daí, uma vez que a Bahia alcançar o estágio de arrumação da casa, qual o projeto da oposição?
CG – Primeiro, contestar a informação que eles falam. Você veja que quando Manoel Vitorio foi apresentar as contas do segundo quadrimestre logo quando assumiu [a Fazenda] ano passado, ele, na série de perguntas que foi feita pelo líder da oposição, Elmar Nascimento, disse “ora, eu pensei que eu estivesse aqui para que vocês dessem uma colaboração. A situação financeira que eu encontrei aqui no estado todo mundo sabe não é novidade, mas vocês virem aqui e não colaborarem, só virem para criticar, isso eu não esperava”. E de imediato eu pedi um “à parte” a ele e dei uma sugestão para acabar com o rombo, que é real, da previdência. Não é um rombo deste governo, é uma sequência de vários governos e é consequência de não ter tido ainda na Bahia uma sequência de concursos públicos para haver a renovação dos servidores. Nós já fizemos isso, mas o governo do PT tem feito em número muito maior, que são os Redas. Ao invés e fazer concurso público, contrata desta maneira e desequilibra a folha. Porque o que sustenta quem tá aposentado é quem está ativo. À medida que você está diminuindo o número de pessoas ativas, aumentando o de aposentados, os Redas e PSF não pagam esses custos. E ai começa a ter o desequilíbrio e chega esse rombo impagável de previdência, o que pode levar os funcionários públicos em um curto espaço de tempo de não terem como receber seus proventos fruto de um trabalho de 30, 35 anos. Esse é o grande problema. Você tem que saber equilibrar as coisas, tem que ter gestão. E é nisso que o governo Wagner tem falhado muito. Sugestão nós demos, e ele acatou. Várias emendas nossas têm sido acatadas. Nós defendemos que todos os projetos têm que passar pelas comissões temáticas. Qualquer poder Legislativo que se valorize tem comissões temáticas fortes porque é onde tem a oportunidade dos deputados apresentarem sugestões, ouvir segmentos organizados da sociedade que vão mostrar suas preocupações e isso tudo enriquece o projeto. No governo Wagner nenhum projeto importante passou pelas comissões. Ele foi mandado direto para o plenário sem discussão. Mas mesmo indo direto nós apresentamos várias sugestões que foram acatadas e enriqueceram os projetos. Por isso que a gente vai mostrar como o prefeito ACM Neto faz, como ele trata os vereadores. Sem ninguém pedir, ele colocou no orçamento desse ano R$ 1 milhão para cada um para cada um escolher a obra que quer. Isso prestigia o Legislativo, mas aumenta a responsabilidade do vereador em saber escolher as obras para não jogar esse R$ 1 milhão fora. Dá a oportunidade de o vereador indicar cargos políticos desde que cumpra com os requisitos técnicos. Essa é a maneira moderna de avaliar. É o que o prefeito faz com o governador. Cada um tem o seu estilo e está mostrando o resultado que está tendo, mesmo com pouco tempo. Mas o PT infelizmente… Você acha que eu fico contente de ver uma série de falhas, toda hora criticando? É ruim Eu queria estar elogiando.
BNews – O carnaval está próximo e já sabemos que a oposição vai lançar o nome da chapa após a festa. Todo mundo sabe que se ele não for Geddel Vieira Lima, será Paulo Souto. O que Geddel pode fazer para ser candidato e o que Paulo Souto pode fazer já que eles têm estilos diferentes, bases diferentes, influencias diferentes?
CG – Alguns veículos de imprensa noticiaram que nós deveríamos definir o candidato há algum tempo atrás. Mas, como eu disse, a nossa preocupação era mostrar a nossa forma de administrar. O importante é ter o amadurecimento político e isso a gente tem. Já temos um acordo firmado de que todas as lideranças de todos os partidos da oposição vão marchar unidas. Nós temos hoje quatro pré-candidatos. Em termos do DE temos Paulo Souto e o ex-deputado federal José Carlos Aleluia. Temos pelo PMDB o ex-ministro Geddel Vieira Lima. Ele era elogiado pelo ex-presidente quando era ministro. Disse que ele era o ministro mais competente. Ele foi criticado porque estava trazendo muito dinheiro para a Bahia e não levava para outros estados. Esse era o papel de um verdadeiro baiano: trabalhar pelo seu estado. Era o que ACM fazia. Primeiro o dinheiro tinha que vir para a Bahia. Depois ele ia para outros lugares. E Geddel fez isso. Nós temos também Joao Gualberto, que foi prefeito de uma cidade pequena as foi um dos melhores prefeitos que a Bahia já teve. Lógico que a gente tem que trabalhar com pesquisa. Não adianta dizer que Paulo Souto foi um dos melhores governadores da Bahia, porque foi, nem mostrar grandes obras que ele trouxe para a Bahia, da mesma forma que os demais, mas o perfil dos quatro é o que a população clama: o de um bom gestor. Lógico que vamos fazer pesquisas. Temos feito constantemente para ver aceitação, rejeição, para comparar com o s candidatos que já estão colocados. Pra que apressar?
BNews – Então a pesquisa vai ser o fiel da balança?
CG – Primeiro depois da gente mostrar o trabalho, é o perfil. Não adianta a gente ir contra o desejo da população. O único desejo que a gente vai contra o da população é porque ACM neto assumiu o compromisso com a população de Salvador de que iria cumprir os quatro anos de mandato. Porque se fosse só pelo desejo do povo, Neto não era uma eleição, era praticamente uma nomeação, tamanha a diferença que o separa dos demais candidatos da base do governo. Mas Neto assumiu compromisso e isso existe para ser cumprido. Continuamos a fazer pesquisa para ver quem é o melhor candidato e estamos afunilando. Então, chegando depois do carnaval, é hora de começar a definir candidaturas até porque junho é época de convenções e é o momento de começar a fazer o trabalho, já que a base de governo já está com os candidatos lançados e a chapa basicamente pronta. Depois do carnaval temos muita coisa para definir.
BNews – Até agora, o discurso da oposição tem estado muito calcado no exemplo e na gestão. Mas em muitos lugares o discurso da gestão não tem muito significado em alguns locais, especialmente entre a população pobre. Que outros elementos colocar além desse em uma eleição, especialmente em um estado tão grande como a Bahia?
CG – Até concordo com você. Muita gente ás vezes não liga muito para gestão, especialmente no interior, muitas vezes porque não teve a oportunidade de frequentar uma escola. Então alguns termos mais técnicos ele não entende. Mas se você mostrar o resultado de uma administração, se comparar, por exemplo, sete anos de governo Wagner com um ano de ACM Neto, que o resultado um está trazendo e o outro não está trazendo. Não tem outro meio. È chegar com a população e perguntar se está satisfeita com a segurança pública do município, ou um caminhão de propaganda que diz que não tem mais problema com abastecimento. E eles erraram, inclusive. Foi a maior seca dos últimos anos e o governo insistiu em deixar a propaganda na televisão dizendo que não tinha problema com abastecimento. É chegar para um PM e perguntar se está satisfeito com o salário que recebe e com a URV, se está sendo valorizado, treinado. Tem que comparar o resultado. ACM Neto deu o 14º salário aos professores municipais no primeiro ano de gestão. É exemplo o que você tem que fazer. Não se ganha eleição se não fizer comparação. Mas o povo hoje está mais esperto, tem mais acesso aos sites, TV e rádio com uma facilidade muito grande. E a juventude, queira ou não queira, tem muito mais oportunidade que os pais de ir atrás da informação. Tem a internet aí, que é uma biblioteca do tamanho do mundo, você não tem limite. Assim, os próprios filhos levam informação aos pais.
BNews – O deputado Carlos Gaban é considerado “chato”, “cri-cri”, “detalhista”. Qual a contribuição que o senhor acha que leva efetivamente ao trabalho de oposição da Assembleia?
CG – Eu gosto de estudar. Eu tenho sempre solicitado participar das discussões, ajudar nos entendimentos. O Legislativo é a casa do entendimento, não pode ser diferente. É a casa dos iguais. Porque independentemente das posições políticas, cada deputado que está lá está representando um segmento da sociedade que depositou nele as suas esperanças de ter um dia melhor, como um emprego para o filho, ou assistência de saúde. Então, de maneiras diferentes, conhecimentos diferentes, até mesmo níveis de escolaridades totalmente diferentes, cada um está representando um segmento e tem que ser respeitado. A gente tem procurado, sempre que possível, ajudar nas negociações, procurar um bom diálogo. Aliás, eu lhe confesso que esta legislatura agora tem me surpreendido. A gente tem deputados da base do governo com quem eu tenho um relacionamento espetacular. E são do PT. Hoje a gente tá conseguindo separar muito…
BNews – Os deputados não são mais inimigos, não é?
CG – Não. Não tem uma inimizade ali dentro do plenário. Antigamente tinha. Hoje em dia, não. No relacionamento a gente entende o papel de cada um. Tem as diferenças políticas, que são normais, quando é possível o entendimento. E nós tivemos muitos entendimentos esse ano. A desavença maior – e é culpa do governo, não dos deputados – é o governo mandar os projetos direto para o plenário e não passar pelas comissões. Mas a gente tem que respeitar que não é desejo dos deputados.
BNews – O senhor ficou dois anos fora da legislatura e só voltou por ter substituído Gildásio Penedo, que foi indicado ao Tribunal de Contas do Estado. Após quatro anos de mandato, não conquistou a reeleição imediata. Ainda dói não ter sido incluído por ACM Neto no rol das prioridades na eleição passada e ter visto, por exemplo, Bruno Reis ter sido eleito e o senhor não?
CG – Eu fui o primeiro suplente do meu partido, o DEM. Não tem nenhum impasse. Nada acontece por um acaso. Não adianta chorar o leite derramado. Se eu não me reelegi, várias razões ocorreram. ACM Neto não tem nada… ACM Neto é ate da família. O relacionamento que ele tem comigo, com os meus filhos e com os meus pais, é perfeito. Nunca ACm Neto procurou prejudicar e também eu nunca pedi. Mas se eu tivesse pedido uma ajuda ele nunca iria negar. Até porque ele sabe a forma como o avô dele, ACM, sempre me tratou. Eu fui presidente de uma das empresas mais importantes do governo, na Cerb, quando ele fez o maior programa de abastecimento do Brasil e eu tive a honra de ser o presidente da Cerb. Na época, era meu secretário César Borges, que hoje é ministro. Então ACM Neto nunca teve um arranhão, muito pelo contrário. As pessoas às vezes falam muito porque Bruno é um assessor dele. Nada mais justo do que Bruno, depois de assessorar ele por vários anos, ter o desejo de ser deputado. Aproveitou um bom momento, o Neto tinha como indicar para alguns prefeitos… o próprio Bruno fez um bom trabalho neste sentido, de chegar para alguns prefeitos, e Neto apenas deu o aval. Mas nenhuma interferência na minha eleição. Não. O Neto é uma pessoa muito correta. Todo mundo, quando ele foi para a Brasília, o que se dizia? Que ele ia ficar à sombra. Ele teve voo próprio. Ele chegou, inclusive, a ser líder da oposição. Uma pessoa na idade dele, no meio de tantos parlamentares em Brasília, a maioria com muito mais tempo de experiência, inclusive. Ele foi líder da oposição, o que mostra que ele tem voo próprio. Um dos grandes méritos que ele tem é o fato dele ter um bom relacionamento com todos, inclusive de outros partidos. Mas isto por que? Palavra. Assume compromisso e cumpre. Isso dá credibilidade ao político.
BNews – Chegou a se cogitar que o grupo de políticos ligado ao senhor faria uma alternativa política dentro do grupo para combater isso…
CG – O pessoal ficou surpreso, realmente. O Heraldo Rocha, por exemplo, foi um cara que fez um trabalho muito bom. Mas aí não foi falta de apoio de Neto. Foi empenho pessoal do governador, Marcelo Nilo e Otto Alencar. Marcelo Nilo e Otto Alencar pegavam os meus prefeitos, que todo mundo comentava, os que me apoiaram, os que apoiavam Heraldo Rocha, e nos últimos 15 dias levavam para o governo. O governo, pelo que os próprios prefeitos me falavam, o governo prometia tudo para votar neles e não em mim. Então infelizmente os prefeitos foram para as comunidades deles e todos os compromissos que foram assumidos para que votassem neles e não em mim não foram cumpridos. Ficaram aí a ver navios. Mas falar para mim se tem mágoa do governador. Não. Faz parte do jogo político. Se tivesse prefeitos que acreditassem mais no nosso projeto futuro de ganhar a eleição lá na frente, teriam ficado comigo. Mas eles também têm comunidades e naquela hora acreditaram que o melhor caminho para resolver os problemas deles era aqueles. Não posso incriminá-los, não. Faz parte do jogo. Essas coisas têm que correr naturalmente.
BNews – Falando em jogo político, o que falta para decidir se vai tentar a reeleição ou não? Está cansado de ser deputado?
CG – Olha, eu gosto da política. As vezes você fica decepcionado com algumas lideranças políticas que se comportaram como se comportaram comigo. Mas aí tem o Neto, tem o Paulo Souto, Geddel, João Gualberto, até os próprios deputados que são meu colegas que dizem: “pô, Gaban, a gente ganhando a eleição precisamos com alguém de experiência ali no plenário. E mesmo perdendo, precisamos de você lá para nos ajudar, entendeu?”. Eu tô analisando. Estou preocupado em acompanhar, sempre conversar com Neto, que sempre troca ideias com a gente. Eu estou procurando ajudar, como lá também na assembleia. É como você diz, que eu sou detalhista e tal. Eu sou engenheiro de telecomunicação e também elétrica. Já trabalhei em firma de consultoria, já trabalhei no exterior em firma de consultoria. Vim para a Bahia para a Telebahia e ocupei todos os cargos de gerência da Telebahia. Fui presidente da Cerb quando a gente fez o maior programa de abastecimento de água. Então eu gosto da parte gerencial. Então eu procuro dar a minha experiência, colaborar com a oposição pra que a gente tenha dados concretos. Pra vocês da imprensa darem espaço pra gente é preciso ter credibilidade. Porque se eu dou uma informação errada pra você, da próxima vez não vai mais me pegar como fonte. Mas se você constantemente nos procura na oposição e nós damos dados concretos, reais, tem credibilidade e vocês ficam à vontade para noticiar porque sabe que a gente está fazendo com base em documentos. Eu gosto dessa parte documental e no que posso tenho ajudado a nossa bancada de oposição.