O ex-secretário nacional de Segurança, Romeu Tuma Júnior começou a rodar o Brasil para discutir o livro que lançou “Assassinato de Reputações — Um Crime de Estado” – Topbooks; 557 páginas – em dezembro do ano passado.
Em Salvador desde a última segunda-feira (24) quando participou de uma noite de autógrafos na Livraria Cultura do Salvador Shopping, o delegado da Polícia Civil de São Paulo afirma que a democracia no Brasil preocupa pela falta de transparência.
Na publicação, Tuma Júnior faz revelações intrigantes dos bastidores do poder e daquilo que definiu como fábrica de dossiês que esteve em operação no período que atuava como secretário nomeado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Sobre o petista mais expressivo, o filho do ex-senador Romeu Tuma (morto em 2010) conta que o ainda líder sindical dos metalúrgicos se reuniu com agentes do regime militar para trocar informações.
Ainda desafia aos que falam sobre a abertura dos documentos da ditadura militar a pegar os documentos o colocar frente a frente com Lula.
Neste breve entrevista Tuma Júnior pincela aquilo que o leitor encontrará no livro, se diz surpreendido com a repercussão da publicação e confiante de que este é mais um passo importante para construir uma democracia mais sólida no país.
O delegado avalia ainda a necessidade de se ampliar a transparência nos órgãos públicos brasileiros e ressalta que o livro é, sobretudo, uma peça de defesa. Confira!
Bocão News: Eu gostaria que o senhor remontasse um pouco o cenário de quando o livro foi escrito.
Romeu Tuma Júnior: Na verdade é uma peça de defesa, como já tive oportunidade de falar, eu explico o que aconteceu comigo e da forma com tentaram assassinar a minha reputação e como à época eu não tive nenhuma chance de me defender, nem na esfera judicial porque não tinha nenhum projeto contra mim e escrevi o livro.
Ainda não tem nenhum processo?
Nunca houve. Nunca fui indiciado em inquérito, denunciado no Ministério Público, processado na Justiça. Eu não tive espaço para me defender na Justiça porque não tinha acusação formal. Não tive espaço na mídia e precisa prestar conta para as pessoas que sempre confiaram em mim, que sempre demonstraram muito carinho e sempre acreditaram em mim. Como não pude falar resolvi escrever e durante a narração desta minha defesa eu contei como era a minha reputação. Porque alguém para ter a reputação assassinada precisa ter uma reputação. Contei minhas passagens por alguns momentos da minha vida profissional, tem muitos casos que não contei ainda, e meu trabalho no governo. Além de contar o porquê tentaram me atingir.
Por que quiseram te atingir?
Obviamente para me tirar do governo, parar algumas investigações que eu vinha fazendo liberar recursos que nós havíamos bloqueado no exterior e que eram monstruosamente grandes e para atingir a candidatura do meu pai (ex-senador Romeu Tuma), disso nós não temos nenhuma dúvida. Então, escrevi o livro e ele deu essa repercussão monstruosa que eu não esperava. Isso me traz dois sentimentos: um de alegria outro de tristeza. Tristeza porque a gente percebe o quanto nós não temos transparência na vida pública e no bastidor da política. Isso é muito ruim, é péssimo para a sociedade. As pessoas não sabem o que acontece e também não se preocupam. Mas a repercussão traz um alento ao perceber que a população começa acordar, a perceber que precisa acompanhar o que acontece. Que precisa elevar este grau de transparência zero que nós temos. E começa a entender que o mandato de todos os eleitos, em qualquer nível – municipal, estadual ou federal – e qualquer cargo – vereador, prefeito, deputado, governador, senador e presidente da República – não é do eleito é do eleitor. Nós temos responsabilidade porque é a gente que os põe lá. A população começa a acordar e isso é importante. O livre dá esta perspectiva e me este alento por tudo que eu passei.
O senhor acredita que a democracia brasileira é frágil?
É porque a hora que a gente vê um Estado Policial sendo implantado não me resta dúvida de que vivemos numa democracia claudicante. Porque quando se consegue instalar um Estado Policial e consegue bisbilhotar a vida das pessoas, consegue acusar as pessoas pelo achismo. Demolir, destruir, assassinar, chacinar a reputação de diversas pessoas através de um tribunal do Google. Onde não se precisa fazer prova. O cara ataca a pessoa na mídia e demole a vida da pessoa se configura um Estado Exceção. Então, se vive isso e a Justiça não se levanta contra isso, o Estado patrocina este tipo de coisa não resta dúvida de que é um Estado Claudicante.
O senhor foi secretário nacional da Justiça. O senhor acredita que o judiciário é a grande “caixa preta” do Brasil?
Eu acho que nós temos algumas caixas pretas e nós precisamos abrir. Enquanto nós não tivermos um Estado efetivamente democratizado, com um grau de transparência 100% todas essas instituições serão caixas pretas. Não é só a Justiça. Você vê o Executivo, por exemplo, todos estes escândalos que estão surgindo, órgãos públicos que deveriam ter transparência 100% e aparecem escândalos que a presidente da República diz que não se lembra de ter assinado. Isso é brincadeira.
A Polícia Federal está instrumentalizada da forma que deveria?
Sem dúvida nenhuma. Salvo as exceções, a instituição tem excelentes profissionais que eu respeito e ela como instituição está instrumentalizada.
E ela tem cumprido o papel que deveria?
Não. Evidente que não. Ela também cumpre o papel que deveria, mas ela está instrumentalizada e amarrada. É só ver essa crise gerada entre a própria polícia e o governo, não sou mais eu que estou falando. Eu apontei isso no livro, mas hoje os agentes federais nesse movimento que eles têm estão clamando isso aos quatro cantos. Eles têm falado isso claramente que a Polícia Federal tem sido usada para os designíos inconfessáveis do governo, de um partido político. Não sou mais eu quem fala. Os agentes falam isso.
Existe de fato uma fábrica de dossiês dentro do governo federal?
Eu não posso falar hoje. Eu falo de quando estava lá. Eu mesmo impedi que vários deles se consumassem. Isso é muito grave. Tem no livro vários desses. O próprio ministro da Justiça à época dizendo que não achava que dossiê era crime.
Qual a expectativa que o senhor cria em cima do seu livro?
Eu acho que eu dei a minha contribuição. Como eu disse, fiz algo para me defender não fiz acusações, relatei os fatos. Isso acabou despertando nas pessoas o conhecimento de coisas importantes e criou este despertar, vamos dizer assim, na sociedade em que as coisas tem que mudar. Então, acho que essa contribuição eu dei para história do Brasil, porque não sou juiz da história, mas contribui para aquele que for julgar a história o faça com Justiça e com elementos claros da forma como foi construída. Eu acho que contribui para os jovens estudantes e principalmente para aqueles que militam na área do Direito. Para que vejam como as coisas funcionam e que possam efetivamente fazer as coisas mudarem.
O senhor será candidato em São Paulo?
Não tenho esta pretensão. Existe hoje uma corrente muito forte fazendo esta solicitação para mim, eu sou filiado a um partido pequeno o PTC. Existe muita gente pressionando, a própria sociedade que fez um desagravo público ao conhecer a minha história. Mas é uma coisa que eu…Eu sai da vida pública e voltei para a vida privada. Voltei não, eu iniciei porque nunca tive vida privada. Eu entrei com 18 anos na polícia e fiquei até os 53 anos. Foram 35 anos de serviço público, vida pública e servidor público. Agora, é a hora que estou advogando, mas existe uma pressão muito grande. Acho que até por conta de tudo isso que a gente se propõe a fazer de mudança. Vamos ver! Não sou de fugir da luta, de missões, mas eu ainda reluto.
O senhor acredita que este modelo que fabrica dossiês e que está ai é um modelo que pode ser atribuído exclusivamente a um partido político apenas?
Olha, ele pode ser atribuído a um grupo de pessoas que num determinado momento militam em um partido político. Ele é um modelo, não diria copiado, mas pensado de um modo que a gente já viu em Estados totalitários. Eu não diria que é um modelo de partido, mas de um grupo de pessoas que sabe que é muito mais fácil acusar os outros pela mídia do que pela Justiça. Porque na Justiça é preciso de provas, na mídia não. Quando você ataca uma pessoa pela imprensa, ela nunca mais recupera. O camarada que tiver a reputação assassinada ele não tem ressurreição. Na Justiça você ainda prova o contrário, mas quando é na imprensa nunca mais volta.
O senhor, no programa Roda Viva, falou que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva colaborou em um determinado momento com a ditadura. Conversou com agentes militares. O senhor sustenta isso? Conta isso para nós?
Tem muita coisa. Eu falei no livro algumas coisas, no Roda Viva outras e tem muito mais coisas. Eu já falei: abra os arquivos da época da ditadura. Aquilo que tanto eles clamam. Está tudo preservado, nós ajudamos a preservar. Foi nossa garantia de vida e nossa garantia moral. Nós apagamos um incêndio no .. para preservar. Abra os arquivos, me chama para a comissão de verdade que eu vou junto com ele.